Apresentação
Ensaio é fase de namoro, aproximação, estudo, descoberta. Depois de começar a escrever contagiado pelo movimento poético que espalha saraus e rodas de Poesia por toda a cidade, chegou a hora em que preciso ser lido para descobrir quem sou.
A Expressão é uma necessidade básica do ser humano, tal como beber ou respirar. E só se completa no Outro. O palco me ensinou que só podemos nos saber por completo ouvindo e acatando a reação do público. Metade da coisa é você se enxergar, a outra metade é aceitar o como os outros te percebem.
Este livro é meu “ensaio aberto”. Aquele momento em que o espetáculo já está alinhavado, mas você ainda não sabe direito o que ele é. Ainda rascunho. Então convidamos os colegas para que a reação deles nos permita saber o que realmente estamos dizendo.
“Escrever é desvendar o mundo”
Simone de Beauvoir
E também uma delícia e uma libertação (além de trabalho danado de difícil).
Tenho portanto uma dívida impagável com Cairo Trindade, que me fez pegar no lápis depois de muito insistir: — Eduardo, você é um poeta, tem que escrever! — Me estimulou a brincar com as palavras contando pés e a trocar sentidos, no prazer de burilar o texto. Ele e sua Denizis foram meus primeiros interlocutores, comentando passo a passo a Criação. Devo também a poetas como Marcus Vinícius Quiroga (que me deu o título deste livro), Dudu Pererê, Geraldo Carneiro e tantos outros, que. com sua poesia e militância, contagiam aquele enthusiasmós dionisíaco sem o qual nada vale verdadeiramente a pena.
A Antonio Carlos Secchin, devo um agradecimento especial. Apoiado no fraquíssimo argumento de termos sido contemporâneos no colégio, fui procurá-lo. Mesmo ocupado como é, na maior gentileza, respondeu com toques curtos e exatos. Coisa de craque.
A Poesia é necessária.
Só com ela vamos além da superfície das coisas, da superfície de nós. Os poetas nomeiam o que há, pronunciam as palavras essenciais, nos traduzem aquele sentimento que tínhamos e não conseguíamos decifrar.
A Poesia Brasileira Contemporânea é pródiga; além dos poetas já citados vale a pena conhecer Paulo Henriques Britto, Antonio Cicero, Gilberto Mendonça Teles, Viviane Mosé, Salgado Maranhão, Braulio Tavares, Adriano Espínola, Wanda Lins, entre muitíssimos outros. Cada um deles, capaz de acender a lucidez em nós.
Toda quarta-feira nos reunimos na “Pelada Poética“, Quiosque Estrela de Luz, Av. Atlântica, Posto 1, às 19 horas, para celebrar a Poesia, com o espírito do campinho de pelada, brincadeira, liberdade, invenção. Brincar com sons e sentidos como brincamos com a bola, por puro prazer mas sempre visando fazer o gol — tocar o Outro. Saborear o prazer de se expressar, que é prazer porque nos põe em contato com o Outro. Igualzinho ao futebol.
Todos queremos uma vida plena. Para isso serve a Poesia, como toda arte. É mapa e veículo para expansão da experiência vital.
Meus pais nos ensinaram que todo mundo deve praticar uma arte para ser completo. Então lá em casa brincávamos com todas. Cada um descobriu a sua, mas não deixou de brincar com as outras. Porque é bom e faz bem.
James Joyce começou um livro com este parágrafo:
Imagine.
“A alegria é a prova dos nove”
Oswald de Andrade
Divirta-se!